MANUAL DO EDUCADOR
Farmácia: Preparação e administração de medicamento (I e II) e Farmacologia
APRESENTAÇÃO
A comunicação é essencial para o ser humano, pela possibilidade de interação que se estabelece com o outro. É uma necessidade social e, simultaneamente, uma exigência pessoal no estabelecimento de relação com os outros. O homem só pode estabelecer contato com o outro por meio da comunicação, seja ela verbal ou não verbal, seja formal ou informal; o homem é comunicação. A bula é uma informação oferecida aos usuários sobre o medicamento. Entre as informações, encontram-se especificações que vão desde os componentes, as contraindicações, efeitos colaterais, posologia, alerta sobre situações de risco à saúde. O consumo indiscriminado de medicamentos gera riscos e agravos à saúde da população. Essa busca por solução imediata mostra como o medicamento tem na população um significado que é construído socialmente, quando a receita é passada de mão em mão, por meio da troca, da conversa. Depressão, insônia, dores, febres, tosses, obesidade, ansiedade, etc. todos esses agravos de saúde contemporâneos, podem ser tratados e aliviados com medicamentos; o que pode indicar que a população tem uma representação do medicamento como a solução imediata para suas doenças, facilitando de uma ou de outra forma, mesmo com campanhas para desestimular, a automedicação. A medicalização da sociedade e a representação social do medicamento são fatores que, em nossa compreensão, juntos, reforçam o uso inadequado de medicamentos; portanto, servem a interesses de mercado e o próprio indivíduo, que pode e deve ser capaz de atuar nesse processo e “assumir” os riscos de agravos à sua saúde. Para tal tomada de decisão pelo indivíduo, acreditamos que a mesma ação comunicativa que lhe é oferecida na propaganda, possa ser realizada de diferentes formas, durante a sua formação e, com isso, contribuir com a reflexão crítica diante do oferecimento de ações persuasivas, imediatas, para a solução dos seus problemas. As consequências surgidas por um conhecimento inapropriado de um medicamento, por parte da população, por meio de propagandas não fiéis à realidade, podem levar necessariamente ao uso irracional do mesmo; que pode promover agravos à saúde do usuário. O medicamento parece ser um produto de forte relacionamento com os consumidores, pois se propõe a minimizar situações de alto risco para a saúde ou sobrevivência. O uso concomitante de vários medicamentos, enquanto estratégia terapêutica, e o crescente número destes agentes no mercado são alguns dos fatores que contribuem para ampliar os efeitos benéficos da terapia, mas que também possibilitam a interferência mútua de ações farmacológicas podendo resultar em alterações dos efeitos desejados. É fundamental a reflexão dos enfermeiros a respeito da execução da prescrição médica, entender o mecanismo intrínseco da droga, ter conhecido como farmacodinâmica, seus efeitos bioquímicos e fisiológicos. Deve ainda, perceber a importância da via de administração, que influencia diretamente a biodisponibilidade, a quantidade de droga aplicada que chega ao seu local de ação e que apresenta uma resposta farmacológica, entendendo também o mecanismo de excreção dessas drogas. Um medicamento deve ser utilizado somente quando indicado por profissional adequado, pois apresenta efeitos esperados e indesejáveis, possui modo correto de administração e armazenamento adequado. Oferecer informações adequadas pode dotar o indivíduo de condições de ser crítico quanto ao uso de medicamentos e aos cuidados com sua saúde durante a utilização. Daí a necessidade de valorizar a comunicação e formação continuada de professores para a efetivação de sua prática educativa, mediadora na formação do indivíduo para o seu exercício de cidadania. Reflexivo, crítico, pesquisador, autônomo são características que devem estar presentes nos professores, para passarem a planejar seu trabalho, tendo por base essa relação e com a ideia de que esses conceitos devem ser também a base de construção do projeto político-pedagógico da instituição, na medida em que professores reconhecem-se agentes de transformação. Ao mediar a compreensão do aluno à sua realidade, levá-lo ao questionamento e à interação com ela, o educador pode estar atuando na construção de um sujeito crítico, ético e com posicionamento político. Pensar em transformação e assim se comprometer com o uso racional de medicamentos, pode ser possível ao educador que se envolve e se preocupa com a educação e formação do profissional de saúde. A enfermagem deve ater-se não somente aos procedimentos técnicos e básicos inerentes à profissão, mas identificar os caminhos percorridos pelo medicamento desde o momento que o médico o prescreve até a sua administração ao paciente e analisar criticamente o sistema de medicação, refletindo sobre suas possíveis falhas e causas. No exercício diário da enfermagem, apesar da existência de rotinas institucionalizadas em relação às medicações, pode-se e deve-se interferir na forma como a assistência é realizada para que além de prevenir as interações medicamentosas adversas possa-se assegurar uma prática contextualizada na ciência.
PREPARAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS (I E II)
Competências: conhecimento referente a métodos, vias, locais, ações, dosagens, diluições, técnicas, assepsia (inclusive a lavagem das mãos) e utilização adequada de materiais estéreis. Conhecimento variado, consistente e profundo em anatomia, fisiologia, microbiologia e bioquímica, para a administração segura de medicamentos. Conhecimento sobre os princípios que envolvem a administração de medicamentos, ação, interações e efeitos colaterais, incompatibilidades farmacológicas, reações indesejadas, bem como interações medicamentosas, com o intuito de minimizar riscos ao paciente.
PLANO DE AULA
Curso: Curso técnico de nível médio em enfermagem
Autor: Thales Henrique Santos Guimarães e José Jardes Bitencourt Unidade: Preparação e Administração de Medicamentos em Enfermagem Assunto: Administração de medicamentos Objetivo Compreender os conceitos da função terapêutica da enfermagem que depende essencialmente da prescrição médica. Conteúdo programático
Metodologia Aula expositiva oral do conteúdo programático, livro didático com o auxílio de recursos multimídia e quadro branco. Avaliação Os alunos serão avaliados por meio de técnicas utilizadas pelo educador como pesquisa, seminários, exposições, resolução de exercícios em sala de aula, etc. bem como através de sua participação durante a aula. Bibliografia CAPOBIANGO, J. D.; TACLA, M. T. G. M. Diluições em pediatria. In: MARTINS, C. B. G.; FERRARI, R. A. P. Medicação Infantil: uma abordagem multiprofissional. Londrina: Eduel, 2005. DUGAS, B.W. Enfermagem Prática. Rio de Janeiro: Interamericana, 1984. FIGUEIREDO, N. M. A. de. Administração de medicamentos: revisando uma prática de Enfermagem. São Caetano do Sul: Difusão Enfermagem, 2003. SILVA Marcelo Tardelli da & SILVA, Sandra Regina LPT – Cálculo e Administração de Medicações. Editora Martinari, 3a ed. São Paulo, 2011. STAUT, N. da S; DURÁN, M.D.E.M; BRIGATTO, M.J.M. Manual de drogas e soluções. São Paulo: EPU, 1986. VEIGA DA, Crossetti MGO. Manual de Técnicas de Enfermagem. 8ª ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1998. |
AQUECIMENTO
A administração de medicamentos é uma das maiores responsabilidades da equipe de enfermagem. Tal condição determina que essa prática seja exercida de modo adequado e seguro aos pacientes e que, portanto, os erros sejam prevenidos e evitados. É dever do profissional de enfermagem, prevenir eventos adversos, garantir a segurança no processo de uso, o amplo conhecimento acerca de modo de ação, reações adversas e interações dos medicamentos. O exercício dessa atividade é praticado, na maioria das instituições de saúde, por técnicos e auxiliares de enfermagem sob a supervisão do enfermeiro. O Código de Ética do Profissional de Enfermagem, por meio dos artigos 41 e 42, destaca a responsabilidade dos profissionais quanto ao registro escrito das próprias ações, relativas à assistência, que compreende a terapia medicamentosa, de modo completo e fidedigno, necessários para assegurar a sua continuidade. O bom desempenho do sistema de medicação deve refletir a articulação das ações da equipe multidisciplinar, bem como o compartilhamento do conhecimento de cada ciência com todos os seus componentes, objetivando o restabelecimento da saúde do paciente com máxima segurança. Pode-se dizer que a enfermagem é decisiva na prática segura da administração do medicamento. Este profissional tem duplo papel na terapia medicamentosa, prevenindo erros de medicação e sendo responsável pela sua ocorrência, já que administra a droga. Além do respaldo legal para prescrever medicamentos em determinadas circunstâncias, é imprescindível que haja investimento por parte das instituições formadoras, no que se refere aos currículos dos cursos de graduação de enfermagem, das entidades de classe, dos estabelecimentos de saúde e do próprio enfermeiro, no sentido de buscar capacitação profissional e constante atualização, a fim de assegurar o exercício seguro e com isenção de riscos à clientela assistida. Como a responsabilidade, o agir do enfermeiro no processo de administração de medicamentos não é solitário, faz-se necessário uma integração entre médicos, farmacêuticos, enfermeiros, desenvolvendo um trabalho em equipe e objetivando a potencialização dos benefícios aos clientes. O conceito de responsabilidade na luz da ética é a obrigação que temos de responder pelo ato que realizamos e pelas suas respectivas consequências. O profissional, como ser humano, só será ético quando compreender e interpretar seu código de ética, atuando de acordo com os princípios propostos, tendo a possibilidade de discordar, devendo responsabilizar-se diante do Conselho e da sociedade. Na prática de enfermagem, no contexto de administrar medicação, a responsabilidade ética e moral adquirem maior profundidade quando seu ato se concretiza na relação interpessoal, mesmo sendo estes atos delegados à equipe de enfermagem. Os medicamentos podem aumentar a expectativa de vida, erradicar certas doenças, trazer benefícios sociais e econômicos, e por outro lado podem aumentar os custos da atenção à saúde se utilizados inadequadamente e ou levar à ocorrência de reações adversas a medicamentos. Estes devem ser usados de maneira racional. O uso racional implica em algumas premissas que o clínico deve ter incorporado em sua prática habitual. Estas premissas são: os pacientes devem receber o tratamento farmacológico mais adequado, ou seja, com a dose mínima eficaz e pelo período de tempo correto; é preciso ter certeza do diagnóstico e compreender a fisiopatologia da doença; é preciso compreender a farmacologia das alternativas farmacoterapêuticas disponíveis; é necessário estabelecer metas para avaliação da eficácia e da segurança do tratamento, e ter predisposição de alterar a terapêutica instituída quando esta se mostrar ineficaz. O conhecimento do enfermeiro e dos demais profissionais de enfermagem, sobre os aspectos ético-legais que envolvem os desvios da qualidade na prestação da assistência, particularmente no processo de medicação, e suas implicações, é de suma importância, tanto como forma de conscientização, quanto para garantir maior segurança na assistência e assegurar os direitos do paciente. A ocorrência de erros ou eventos adversos na terapia medicamentosa recai quase que exclusivamente sobre a enfermagem. Logo, faz-se necessária profunda análise sobre o erro em medicação, visto que esse extrapola os clientes e afeta também os profissionais, familiares, instituição de saúde e sociedade. Entendendo que a visão do gerenciamento do cuidado de enfermagem deve prever a segurança na administração de medicamentos, acredita-se ser relevante o diagnóstico das situações que podem conduzir o profissional de enfermagem a cometer erros na terapia medicamentosa. Dessa forma, as instituições de saúde devem voltar-se a buscar respostas para onde, como, quando e porque os erros ocorreram, ao invés de apontar exclusivamente culpados para essas situações, possibilitando correção dos pontos falhos do sistema e garantindo maior segurança a pacientes e prestadores de serviços. Pensar na utilização de programas de computador que rapidamente disponibilizam as informações necessárias sobre determinado medicamento deve ser uma preocupação institucional em conjunto com a assistência farmacêutica. A política institucional é fundamental para que a administração de medicamentos seja realizada de forma segura e racional, enfatizando a necessidade de a enfermagem estar inserida nessa discussão.
DINÂMICAS
“SHOW DA VACINA” E O “QUEM SOU EU?” Aborda a temática das medicações.
Os jogos consistem em perguntas e respostas impressas em cartões. Cada cartão contém uma pergunta e três opções de respostas sobre a referida temática. Para iniciar o jogo é necessário um mediador (mestrando ou professor) e os jogadores (acadêmicos). O mediador disponibiliza os cartões em uma mesa, com os conteúdos das perguntas virados para baixo. O primeiro aluno a participar do jogo escolhe a carta desejada e o mediador realiza a leitura da pergunta impressa e fornece as opções de resposta. Caso o aluno não saiba a resposta, ele pode escolher outro estudante para lhe auxiliar, mas se ambos não se decidirem sobre qual opção consideram correta é dado a todos os componentes do grupo o direito de resposta assim, inicia-se a discussão sobre cada opção disponibilizada no cartão. Após a discussão é revelada a opção correta e é dado o direito de continuidade do jogo a outro aluno. A fonte de pesquisa para confecção dos cartões: Fundação Nacional de Saúde (BR). Manual de Normas de Vacinação. 3rd ed. Brasília (DF): Ministério da Saúde (BR); 2001. Fundação Nacional de Saúde (BR). Manual de Procedimentos para Vacinação. 4 th ed. Brasília (DF): Ministério da Saúde (BR); 2001. EPUB. Dicionário de Administração de Medicamentos na Enfermagem. 9th ed. Rio de Janeiro: Editora EPUB; 2013. Fonte Adaptada: www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/download/…/8949 acesso em 08 de dezembro de 2016 às 11:03h |
JOGO DA EMBALAGEM VERIFICANDO A EMBALAGEM DE MEDICAMENTOS
Nessa atividade, você deve pesquisar em três caixas de medicamentos e organizar todas as informações quanto à data de validade, a forma farmacêutica, o registro no Ministério da Saúde, e os aspectos relacionados ao risco de cada medicamento pesquisado. Após a pesquisa, complete o quadro a seguir:
Fonte: https://www.anvisa.gov.br/propaganda/educacao_saude/caderno_atividades.pdf pag. 13 acesso em 09 de dezembro de 2016 às 12:35. |
TEXTOS PARA REFLEXÃO
ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS: UMA VISÃO SISTÊMICA PARA O DESENVOLVIMENTO DE MEDIDAS PREVENTIVAS DOS ERROS NA MEDICAÇÃO
Ana Elisa Bauer de Camargo Silva INTRODUÇÃO 1. ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS A administração de medicamentos, prática realizada nas instituições hospitalares sob responsabilidade da equipe de enfermagem, deve ser vista por todos os profissionais de saúde envolvidos com a terapia medicamentosa como apenas uma das partes do processo de medicação. No que diz respeito à enfermagem esta deve ater-se não somente aos procedimentos técnicos e básicos inerentes à profissão, mas identificar os caminhos percorridos pelo medicamento desde o momento que o médico o prescreve até a sua administração ao paciente e analisar criticamente o sistema de medicação, refletindo sobre suas possíveis falhas e causas. A enfermagem deve colaborar com a segurança do sistema buscando soluções para os problemas existentes, além de colaborar com pesquisas sobre esta temática. A utilização de medicamentos é uma das intervenções mais utilizadas no ambiente hospitalar, no entanto, estudos, ao longo dos últimos anos, têm evidenciado a presença de erros no tratamento medicamentoso causando prejuízos aos pacientes que vão desde o não recebimento do medicamento necessário até lesões e mortes (LEAPE et al. 1995; TÁXIS & BARBER, 2003). A administração de medicamentos corresponde a última oportunidade de prevenir um erro na medicação que pode ter surgido já na prescrição ou na dispensação dos medicamentos. Os profissionais de saúde devem estar cientes e alertas para este fato e buscar, permanentemente, medidas de prevenção de erros através de novos conhecimentos, condutas ou de estratégias que visem proteger todos os envolvidos, principalmente o paciente. Obter uma visão ampla do sistema de medicação possibilita aos profissionais condições de análise e intervenções que garantam uma assistência responsável e segura ao paciente e a si próprio. A partir dessas considerações esse estudo tem por objetivo discorrer sobre tipos e causas de erros na medicação e sobre a importância de que haja uma visão ampla do sistema de medicação dentro da instituição hospitalar. 2. ERROS NA MEDICAÇÃO Os erros na medicação são considerados eventos adversos ao medicamento passíveis de prevenção, podendo ou não causar dano ao paciente, com possibilidade de ocorrer em um ou em vários momentos dentro do processo de medicação (BATES et al., 1995;. LEAPE et al. 1995). O National Coordinating Council for Medication Error Reporting and Prevention (NCCMERP), corporação norte – americana independente, composta de 15 organizações apresenta as seguintes definições para dano e erro na medicação: “Dano é definido como prejuízo temporário ou permanente da função ou estrutura do corpo: física, emocional, ou psicológica, seguida ou não de dor, requerendo uma intervenção”. “Erro na medicação é qualquer evento evitável que pode causar ou induzir ao uso inapropriado de medicamento ou prejudicar o paciente enquanto o medicamento está sob o controle do profissional de saúde, paciente ou consumidor. Tais eventos podem estar relacionados à prática profissional, produtos de cuidado de saúde, procedimentos, e sistemas, incluindo prescrição; comunicação; etiquetação, embalagem e nomenclatura; aviamento; dispensação; distribuição; administração; educação; monitoramento e uso”. (NCCMERP, 1998 [online]). Os dados provenientes de pesquisas mostram que os erros na medicação representam uma triste realidade no trabalho dos profissionais de saúde, com sérias consequências para pacientes e organização hospitalar, pois suas causas repercutem negativamente nos resultados institucionais face aos indicadores relevantes da qualidade da assistência prestada aos pacientes hospitalizados (CARVALHO, 2000). O relatório “To err is human: building a safer health system” do Institute of Medicine (EUA) publicado em 1999, baseado em estudos realizados no Colorado, Utah e Nova York, aponta que das 33,6 milhões de internações realizadas no ano de 1997, em hospitais dos EUA, por volta de 44.000 a 98.000 americanos morreram devido a problemas causados por erros na medicação (KOHN et al., 2001). Os resultados de um estudo realizado em dois hospitais terciários de grande porte, Brighan and Women´s Hospital e Massachuchusetts General Hospital, nos Estados Unidos da América, apontou uma média de 6,5 eventos adversos ao medicamento para cada 100 internações, dos quais 28% poderiam ter sido prevenidos (BATES et al., 1995). Os erros na medicação podem, muitas vezes, causar dano ao paciente e, segundo Bates (1996), cerca de 30% dos danos durante a hospitalização estão associadas a erros na medicação, os quais trazem também sérias conseqüências econômicas às instituições de saúde. Estima-se um gasto de aproximadamente US$ 4.700 por evento adverso de medicamento evitável ou por volta de US$ 2,8 milhões, anualmente, em um hospital de ensino com 700 leitos. O custo anual de morbidade e mortalidade referente a erros na medicação, nos EUA, tem sido estimado em torno de US$ 76,6 bilhões (BERWICK & LEAPE, 1999; KOHN et al., 2001, ANDERSON, 2002). Os erros descritos tanto na literatura nacional como na internacional são tipados conforme descrição a seguir (RIBEIRO, 1991; DRAFT, 1992; CASSIANI, 1998, NCCMERP, 1998): Erros de omissão: qualquer dose não administrada até o próximo horário de medicação. Erros na administração de um medicamento não autorizado: administração de um medicamento ou dose de medicamento não prescrito pelo médico. Erros em dose extra: administração de uma ou mais unidades de dosagem, além daquela prescrita. Erros referentes à via: administração pela via errada ou por uma via que não a prescrita. Erros com a dosagem: administração do medicamento em dosagens diferentes daquelas prescritas pelo médico. Erros devido ao horário incorreto: administrar medicamento fora dos horários predefinidos pela instituição ou da prescrição. Erros devido ao preparo incorreto do medicamento: medicamento incorretamente formulado ou manipulado: diluição ou reconstituição incorreta ou inexata; falha ao agitar suspensões; diluição de medicamentos que não permitam esse procedimento, mistura de medicamentos que são física ou quimicamente incompatíveis e embalagem inadequada do produto. Erros devido à utilização de técnicas incorretas na administração: uso de procedimentos inconvenientes ou técnicas impróprias, como falhas nas técnicas de assepsia e das lavagens das mãos. Erros com medicamentos deteriorados: administração de medicamentos com comprometimento da integridade física ou química. Outros tipos de erros incluem: Erros de prescrição: prescrição imprópria de um medicamento, seja em relação à dose, apresentação, quantidade, via de administração ou concentração. Erros de distribuição: falhas ao distribuir o medicamento, como: doses incorretas; rótulos incorretos ou inadequados; preparação incorreta ou inapropriada; distribuição de medicamento com data expirada; medicamento estocado de maneira imprópria ou ainda comprometido física ou quimicamente. Erros potenciais: são aqueles que ocorreram na prescrição, distribuição ou administração dos medicamentos, mas que não causaram dano ao paciente. Medicar pacientes requer um processo de comunicação eficaz para que esta atividade seja realizada com sucesso. Problemas na comunicação podem ser uma das causas de erros na medicação, e se originam de várias situações encontradas no dia-a-dia do profissional (BARKER & HELLER, 1964 apud RIBEIRO, 1991, p. 70). Dentre essas situações, a má qualidade da letra médica é identificada como um fator que contribui não só para a incidência de erros, como também para aumentar o custo para o hospital, pois exige mais tempo da enfermagem e dos profissionais da farmácia para interpretá-la. A falta de uma padronização da nomenclatura de medicamentos também pode gerar problemas, pois muitos deles possuem nomes comerciais parecidos, podendo ser transcritos ou interpretados de maneira incorreta. Além disso, o uso de abreviaturas nas prescrições, padronizadas ou não, podem originar erros. As ordens verbais são frequentes na prática hospitalar, principalmente em situações de emergência, porém exigem uma boa memória do receptor para guardar a dose e nome do medicamento indicado, pois muitas vezes elas são dadas de forma incompleta. No caso das prescrições escritas, as informações podem ser também incompletas e faltar dados como: via, dose, posologia, diluição, levando o profissional a tirar conclusões próprias sobre como agir, seja executando ou deixando de realizar o procedimento. Em alguns hospitais é comum o ato de transcrições das ordens médicas que podem induzir à omissão ou erro na transmissão da informação. Os erros na medicação também podem estar relacionados: a deficiências da formação acadêmica, inexperiência, negligência, desatenção ou desatualização quanto aos avanços tecnológicos e científicos; ao manejo de equipamentos, como bombas de infusão, cateteres etc.; aos procedimentos desenvolvidos e ao sistema de medicação como um todo. Sabe-se que os erros fazem parte da natureza humana, portanto os sistemas de medicação devem ser bem estruturados com a finalidade de promover condições que auxiliem na minimização e prevenção dos erros, planejando os processos e implementando normas, regras e ações. Alguns estudos têm como propósitos identificar e analisar os erros na medicação, mas o fazem sob a ótica dos erros causados pelos profissionais, ignorando que erros na medicação também podem ser gerados por falhas no sistema que, muitas vezes, induzem ao erro humano (BRENNAM, 1991; PHELAN, 1996). No caso do erro na medicação, o indivíduo raramente é a única causa. Desse modo, entendemos que se deve mudar a cultura dos erros para que estes não sejam vistos como falhas humanas, mas como uma oportunidade de melhorar o sistema existente (BERWICK et al, 1994; LEAPE, 1994; PEPPER, 1995). No momento em que a instituição procurar saber “como” e o “por que” da ocorrência dos erros, e não mais o “quem” foi o responsável por eles, ela contará com a colaboração dos profissionais para diagnosticar as falhas que possam estar ocorrendo na medicação dos pacientes. Sabemos que o medo de ações disciplinares e punitivas compromete a decisão do funcionário ou da equipe quanto a documentá-lo ou não, portanto, os gerentes de serviços devem mudar sua cultura e promover mudanças no ambiente de trabalho, de modo que a punição não seja a prática em execução e o ser humano não seja o foco principal de correção (CASSIANI, 1998; CASSIANI, 2000b). Os gerentes muitas vezes pensam que, sem punição, os profissionais se tornarão descuidados e com isso os erros poderão aumentar, mas WOMER et al. (2002), em estudo realizado sobre a prática da não punição no Children’s Hospital of Philadelphia, identificaram que os relatos de erros interceptados aumentaram dramaticamente enquanto os dos detectados diminuíram. 3. O SISTEMA DE MEDICAÇÃO O conceito de sistema traz as relações entre as partes e o todo, permitindo a compreensão de toda e qualquer atividade complexa, sendo os sistemas constituídos de conjuntos de componentes que se interagem, se inter-relacionam, se transformam e atuam entre si na execução de um objetivo global. Estes conjuntos poderão ser assumidos como subsistemas ou processos, com funções e objetivos próprios, os quais afetam o comportamento do conjunto como um todo. Qualquer ação de uma parte, necessariamente, provocará uma reação das demais (CHURCHMAN, 1975; MELO, 1987; ACKOFF apud ARAÚJO, 1994). O sistema de medicação de um hospital é aberto e complexo, envolvendo várias etapas que estão inter-relacionadas e interligadas por várias ações, desenvolvendo de 20 a 30 passos diferentes durante os processos de prescrição, dispensação e administração de medicamentos, envolvendo sempre muitos indivíduos e múltiplas transferências de pedidos ou materiais, que passam de uma mão à outra, que podem conduzir a erros na medicação (LEAPE et al., 2000). Em 1989, a Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations – JCAHO identificou cinco componentes ou processos do sistema de medicação, quais sejam: seleção e obtenção do medicamento; prescrição; preparo e dispensação; administração de medicamentos e acompanhamento do paciente em relação aos efeitos do medicamento (NADZAM, 1998). Estudo realizado por LEAPE et al. (1995) relata que 39% dos erros na medicação ocorreram no processo de prescrição de medicamentos, 12% na transcrição, 11% no processo de dispensação e 38% no de administração de medicamentos. No sistema de medicação entendemos por insumo os pacientes e as informações a respeito da terapia medicamentosa; por processo, a realização de prescrição, dispensação e distribuição e administração de medicamentos; por resultado, os pacientes medicados com eficácia, e o tratamento seguro, como feedback, que realimenta o sistema, os relatórios e as informações geradas. Por último, temos como ambiente o conjunto de fatores e de condições que influencia a dinâmica desta prática (tecnologia, infraestrutura, fornecedores, regras, regulamentos etc.) fazendo com que o sistema se reajuste e se mantenha em contínua aprendizagem e auto-organização (NADZAM, 1998). Os médicos são os responsáveis pela prescrição de medicamentos, porém a maneira como ela é realizada varia de hospital para hospital. A equipe de enfermagem atua no último processo, que é o da administração do medicamento ao paciente, fato que faz com que muitos erros cometidos no início ou no meio do sistema, e não detectados, lhe sejam atribuídos. As instituições hospitalares devem prevenir os erros na medicação através da elaboração e implementação de mecanismos de segurança voltados ao sistema de medicação, deixando de lado a perseguição e punição dos profissionais a cada erro ocorrido, fazendo com que este erro seja discutido e, assim, revertido em educação e melhorias para o sistema. Para tanto o sistema deve possuir alguns princípios e características considerados ideais (LEE, 2002). Os princípios ideais apregoam que o sistema deva centrar-se no paciente, basear-se no respeito aos outros e requerer o aceite à responsabilidade e à colaboração de todos os interessados, tanto dos profissionais envolvidos como do próprio paciente que também deve assumir responsabilidade de participar das decisões relativas ao seu tratamento. Em um estudo multidisciplinar foram utilizados alguns princípios de segurança e orientações que resultaram em melhorias para o sistema, reduzindo os erros que atingiam o paciente, tais como (WOMER et al., 2002): eliminar as punições; aprender com o erro; simplificar o sistema de medicação; padronizar os processos; utilizar procedimentos que estimulem as pessoas a seguirem o caminho certo; reduzir a transferência de atividades entre pessoas e/ou grupos de pessoas; dar principal atenção ao fator humano. Além da complexidade própria do sistema de medicação, os hospitais ligados às Universidades, que oferecem campo de estágio para escolas técnicas e que possuem acadêmicos e estudantes das diversas áreas da saúde atuando em suas instalações e prestando assistência a seus pacientes, devem considerar as situações inerentes àqueles que estão aprendendo, tais como: inabilidade, insegurança, falta de domínio técnico, limitada capacidade para interpretar e analisar as situações presentes e emergentes, precipitação, lentidão, apresentando, enfim, possibilidade maior de risco para a falha e para a iatrogenia do cuidado (MADALOSSO, 2000). Acrescenta-se ainda a esse processo o pouco conhecimento dos sistemas vigentes na instituição e seu papel dentro deles. Este fato pode prejudicar a qualidade e a eficiência dos serviços prestados aos pacientes, principalmente no que se refere ao sistema de medicação que sempre comporta riscos, podendo, assim, causar danos à clientela. CONSIDERAÇÕES FINAIS As instituições hospitalares devem centrar seus objetivos em um sistema de medicação seguro aos pacientes, utilizando, para este fim: mudança na cultura dos erros; simplificação e padronização dos processos e as atividades neles desenvolvidos e introdução de avaliações imediatas sobre as ações executadas. O Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations faz algumas recomendações gerais para prevenção de erros como: reduzir a confiança na memória; aperfeiçoar o acesso a informações seguras e confiáveis sobre medicamentos; introduzir sistemas que eliminem ou diminuam a possibilidade de erro (ex: equipo de nutrição enteral que não conecte em cateter intravenoso); buscar a padronização e promover treinamentos (BATES, 1998). Percebemos que a maioria das estratégias está voltada ao sistema e sabemos que prevenir erros através de abordagens voltadas para os indivíduos que os cometem é contraproducente, pois tais estratégias podem encorajar o funcionário a esconder os erros com medo das possíveis punições e da exposição a que estará sujeito. Em vista disso, torna-se necessário conhecer o sistema de medicação utilizado nas instituições hospitalares e verificar como seus profissionais estão desenvolvendo suas atividades, se estas são preestabelecidas ou não por protocolos e padronizações, para permitirem identificação e análise das possíveis fragilidades e falhas ocorridas nos processos e intervir, minimizando riscos e aumentando a segurança do paciente. REFERÊNCIAS ANDERSON, J. G. et al. Evaluating the capability of information technology to prevent adverse drug events: a computer simulation approach. J. Am. Med. Inform Assoc., v. 9, n. 5, p. 479-490, 2002. ARAUJO, L. C. G. 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Dissertação (Mestrado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. CASSIANI, S. H. B. Um salto para o futuro no ensino da administração de medicamentos: desenvolvimento de um programa instrucional auxiliado pelo computador. Ribeirão Preto, 1998. 206 p. Tese (Livre Docência) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. CASSIANI, S. H. B. Erros na medicação: Estratégias de Prevenção. Rev. Bras. Enf., v. 53, n. 3, p. 424-430, 2000. CHURCHMAN, C. W. Introdução à teoria dos sistemas. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1975. DRAFT Guidelines on preventable medication errors. Am. J. Hosp. Pharm., v. 49, n. 3, p. 640-648, 1992. KOHN, L. T. et al. To Error is human: building a safer health system. Washington: Committee on Quality of Health Care in America, National Academy of Institute of Medicine, 2001. LEAPE, L. L. Error in medicine. JAMA, v. 272, n. 23, p.1851-7, 1994. LEAPE, L. L. et al. Systems analysis of adverse drug events. 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Doutora em Enfermagem. Professora Associada do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da EERP – USP. shbcassi@eerp.usp.br Fonte: https://www.revistas.ufg.br/fen/article/view/810/925 acesso em 08 de dezembro de 2016 às 10:36h. |
RESPONSABILIDADE DA ENFERMAGEM NA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS: ALGUMAS REFLEXÕES PARA UMA PRÁTICA SEGURA COM QUALIDADE DE ASSISTÊNCIA
Jorséli Angela Henriques Coimbra e Silvia Helena De Bortoli Cassiani INTRODUÇÃO A administração de medicamentos é uma das funções assistenciais exercida, na maioria das vezes, pela equipe de enfermagem, decorrendo da implementação da terapêutica médica. Na realidade brasileira, o exercício dessa atividade está sendo praticado, na maioria das instituições de saúde, por técnicos e auxiliares de enfermagem sob a supervisão do enfermeiro. Observamos que o enfoque que está sendo exercido sobre a prática de administração de medicamentos é mais voltada para o conhecimento científico, dos quais os profissionais enfermeiros abstraem em seu percurso cotidiano, seja ele adquirido em sua formação profissional, na sua vivência ou em cursos como os de educação continuada, seminários, congressos dentre outros. A responsabilidade desta função é enfatizada pelos diversos autores. “A administração de medicamentos é uma das mais sérias responsabilidades que pesam sobre o enfermeiro”(1). “A administração de medicamentos aos pacientes adultos hospitalizados é atribuição do enfermeiro e da equipe de enfermagem a ele subordinada, sendo uma das maior uma das maiores responsabilidades do seu exercício profissional…” (2). “A administração de medicamento é uma das maior é uma das maiores responsabilidades do enfermeiro e demais integrantes da equipes envolvidos no cuidado do paciente”(3). “Administrar medicamentos prescritos é um papel fundamental à maioria das equipes de enfermagem. Não é somente uma tarefa mecânica a ser executada em complacência rígida com a prescrição médica. Requer pensamento e o exercício de juízo profissional”(4). Responsabilidade tem o “significado de obrigação, encargo, compromisso ou dever de satisfazer ou executar alguma coisa que se convencionou deva ser satisfeita ou executada”(5). Assim, conhecer a responsabilidade atribuída ao enfermeiro na terapia medicamentosa parece necessitar de total transparência e conscientização do profissional enfermeiro em todas as facetas que permeiam a relação medicação-responsabilidade. A conscientização da responsabilidade não poderá acontecer isoladamente no contexto técnico-científico, pois há uma interação complexa envolvendo o enfermeiro e o indivíduo a ser cuidado. Esta interação imbui a experiência de vida, a responsabilidade ética, moral e profissional do enfermeiro, respeitando-se os direitos legais, culturais e os valores do indivíduo a ser assistido. Faz-se necessário que o processo de administrar medicamentos tenha algum significado para o enfermeiro, mais do que simplesmente um procedimento técnico. O fato de se privilegiar exclusivamente a responsabilidade técnica fortalece uma prática tecnicista, desumana, promovendo uma assistência ao indivíduo e à sociedade aquém daquela de que são merecedores. Refletindo sobre a responsabilidade, sem ter a intenção de esgotar a temática, queremos trazer à tona quais as facetas vinculadas à prática da administração de medicamentos. DESENVOLVIMENTO 1. Responsabilidade jurídica As legislações para o exercício profissional da enfermagem, através do Decreto Lei nº94.406/87 em seu artigo 8º, que dispõe sobre a incumbência privativa do enfermeiro, determina nas alíneas COREN(6). b) organização e direção dos serviços de enfermagem e de suas atividades técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços. c) planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços da assistência de enfermagem. Em seu artigo 11, o decreto explicita as atribuições do auxiliar, no inciso III e em especial na alínea “a”, legaliza a ação de ministrar medicamentos por via oral e parenteral, e juntamente com o artigo 13, determina que esta atividade somente poderá ser exercida sob supervisão, orientação e direção do enfermeiro. Ao analisarmos o teor destes artigos, entendemos que, embora algumas funções de cuidar do ser humano sejam delegadas à equipe de enfermagem, o enfermeiro tem como responsabilidade estar envolvido em todas as ações executadas por qualquer componente de sua subordinação. O ato de delegar não faz refutar a responsabilidade que o enfermeiro tem no atendimento das necessidades assistenciais e de cuidados à saúde do paciente como indivíduo, da família e de outros entes significativos, mesmo sendo realizados por sua equipe. A questão dos profissionais da área de saúde relacionada com a sua responsabilidade civil está intrinsecamente envolvida com o atual sistema de saúde. Este envolvimento é muito desafiador com enfrentamento do sistema de saúde vigente caracterizado pela revolução tecnológica de alta complexidade e de ultra-especialização. A alta complexidade vem acarretando um alto custo do sistema de saúde e obstruindo o acesso da população a estes recursos. Como resultado de um quadro caótico, cresce ainda mais a descaracterização da interação do profissional de saúde com a população. A constatação de um quadro, no qual a saúde, na atualidade é exposta por equipamentos sucateados, recursos humanos deficitários em número e qualidade torna-se dramático; entretanto, não isenta o profissional da responsabilidade pelos danos que praticar, preenchidos e exigidos nos requisitos legais. O termo “responsabilidade”, juridicamente, é definido como “capacidade de entendimento ético-jurídico e determinação volitiva adequada, que constitui pressuposto penal necessário de punibilidade”(7). Para que um profissional responda judicialmente a um processo civil, há necessidade de vinculá-lo a uma responsabilidade civil comprovada. Para tanto, é necessária a conjunção de três elementos formadores: uma conduta que pode ser ação ou omissão; um resultado ocasionando um prejuízo moral ou físico e nexo causal – que é a ligação lógica (imaginária) entre a conduta realizada e o resultado final dessa conduta. Na administração de medicamentos, havendo uma atuação errônea por parte da enfermagem, seja ela uma ação ou omissão, que leve a um prejuízo moral ou físico, em que a relação do ato ou omissão de administrar e o prejuízo estejam presentes, é cabível um processo civil. As ações dos profissionais devem ser pautadas em extrema responsabilidade para eliminar falhas, das quais, por essas ações danosas, são passíveis de responder juridicamente aos termos de elemento de culpa, a saber: imperícia, negligência ou imprudência. A imprudência significa uma ação sem cuidado necessário(8). É um atuar de maneira precipitada, insensata ou impulsiva. Imperícia(9), é um ato incompetente por falta de habilidade técnica, desconhecimento técnico; falta de conhecimento no exercício de sua profissão e negligência é definida como a falta de diligência incluindo desleixo, preguiça, indolência e descuido, podendo resultar da falta de observação dos deveres que as condutas exigem, caracterizando-se por inércia, inação, desatenção, passividade, sendo sempre de caráter omisso(8, 10). A prática de ações danosas, além daquelas provocadas através de ações deliberadas ou intencionais como é o da eutanásia, são formas culposas de crime mesmo que não haja intenção ou vontade deliberada decorrente da negligência, imperícia e imprudência. Outro autor exemplifica essas formas culposas de crime como: injeção de substâncias estranhas e introdução inadvertida de ar por via venosa(5). Acrescentamos a essa exemplificação a administração de doses ou medicamentos errados, administração de medicamentos por via errada ou preparo de drogas equivocadas devido ao não entendimento de leitura da prescrição médica. Para o sucesso de uma assistência adequada ao cliente, contribuem vários profissionais de diferentes níveis de qualificação. Todos têm uma participação direta ou indireta na assistência. Na ocorrência do erro, médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e farmacêuticos são passíveis de responder judicialmente. Para o enfermeiro, o delegar a administração de medicamentos ao seu subordinado não o exime de responder pelo ato judicialmente. Delega-se a atribuição do fazer, mas não a delegação de responsabilidade. A responsabilidade fica presente ao enfermeiro supervisor e cria-se uma outra responsabilidade ao auxiliar de enfermagem executor. Na atualidade existe o Direito do Paciente pautado na Constituição Brasileira, garantindo uma assistência de qualidade e humanizada, respeitando os seus direitos como cidadão. “Charlatões inconscientes” são denominados os médicos estacionários que continuam a exercer a profissão, escudados apenas na própria experiência, sem acompanhar a evolução da medicina, sem estudar, aferrados aos conhecimentos antigos, firmes em ideias atrasadas(5). “Quantos enfermeiros estarão nessa condição? Sem assumir efetivamente a responsabilidade inerente à titularidade de enfermeiro, será muito difícil, se não impossível, que o público reconheça e valorize o profissional enfermeiro”(5). Assim a conscientização de atuação dos saberes técnicos, científicos e culturais e assumindo suas realidades poderão consolidar a inserção do enfermeiro na sociedade. 2. Responsabilidade ética e morbilidade ética e moral Uma falha pode ter conseqüências irreparáveis, pois uma vida que foi perdida, naturalmente é irrecuperável. As atividades da enfermagem estão intimamente relacionadas com respeito à dignidade do ser humano, impregnadas de consideração pelo semelhante. Ao realizar a terapia medicamentosa com responsabilidade, este fazer necessita ser encarado como um ato de extrema consciência social, humana, mais que uma atribuição técnica profissional. Não há como abordar esta responsabilidade sem se reportar a conceitos éticos e morais já que são termos utilizados frequentemente, que exigem transparência em seus significados. Ética é definida como “reflexão filosófica sobre o agir humano. E este agir, que difere do fazer ou produzir algo, refere-se a uma dinâmica pessoal, a um processo de construção de si”(11). O domínio do ethos é o da moralidade, do estabelecimento de deveres, a partir da reiteração das ações e significado a elas atribuída. Moral é definida como “um conjunto de normas e regras destinadas a regular as relações dos indivíduos numa comunidade social dada”(12). A moral em uma determinada sociedade, indica o comportamento de ser considerado bom ou mau. A ética procura o fundamento do valor que norteia o comportamento, partindo da historicidade presente nos valores. Na medida em que somos livres para agir no nosso entendimento ético e moral, pois este entendimento diferem de pessoa para pessoas, as nossas ações entrelaçam inseparavelmente da responsabilidade advinda dessas. O conceito de responsabilidade na luz da ética é a obrigação que temos de responder pelo ato que realizamos e pelas suas respectivas conseqüências. A formação ética do ser humano vai acontecendo associada com o seu desenvolvimento. Não é congênita (como também não nasce com os conceitos de família, moral e valor), porém temos condições de vir a ser ético introjetado a partir da experiência de vida denominada eticidade(13). “A eticidade está na percepção dos conflitos de vida psíquica (emoção x razão) e na condição, que podemos adquirir, de nos posicionarmos, de forma coerente, face a esses conflitos. Consideramos, portanto, que a ética se fundamenta em três pré- requisitos :1) percepção dos conflitos (consciência); 2) autonomia (condição de posicionar-se entre a emoção e a razão, sendo que essa escolha de posição é ativa e autônoma) e 3) coerência. Assim fica caracterizado o nosso conceito de ética, reservando-se o termo eticidade para a aptidão de exercer a função ética”. Já moral é o questionamento do que é correto ou incorreto, o que é virtude ou maldade nas atitudes humanas, sendo que a moralidade “é um sistema de valores, do qual resultam normas que são consideradas corretas por uma determinada sociedade”(12). Aparentemente, a implementação destes conceitos é realizada com muita simplicidade, em que o indivíduo, vivenciando um momento de conflito ético, solucionaria o problema tornando desnecessárias instituições como Conselho Federal de Enfermagem, Conselho Federal de Medicina e outros. Entretanto, estas entidades existem e criam seus códigos de ética “inegavelmente necessários para a imposição de normas a serem respeitadas por todos os profissionais”(13). A elaboração desses códigos torna-se necessária, mas emerge a reflexão de que a elaboração simples não pressupõe que a instituição seja ética. Não é a punição que modificará um indivíduo e o transformará em um ser ético. O profissional, como ser humano, só será ético quando compreender e interpretar seu código de ética, atuando de acordo com os princípios propostos, tendo a possibilidade de discordar, devendo responsabilizar-se diante do Conselho e da sociedade. Na prática de enfermagem, no contexto de administrar medicação, a responsabilidade ética e moral adquirem maior profundidade quando seu ato se concretiza na relação interpessoal, mesmo sendo estes atos delegados à equipe de enfermagem. Mas quem já não presenciou o ritual de uma administração intramuscular na região glútea à vista de demais pessoas? Quem já não presenciou o ato de medicação realizado de forma repetitiva, banal, sem a informação adequada da importância e serventia? Refletimos que a percepção da responsabilidade ética e moral embora presentes na equipe de enfermagem, não é efetivada no amplo sentido do significado. Dar atenção, dispor de momentos de escutar as dúvidas, as ansiedades, as angústias dos clientes é uma pequena parcela do agir ético e moral. Mas embora pequeno, nos parece ser um grande passo para a transformação de uma prática que visa um cuidar personalizado, valorizando o desenvolvimento das competências profissionais e a qualidade dos cuidados nas exigências éticas e morais. CONSIDERAÇÕES GERAIS Não podemos nos esquivar da possibilidade de que a opção de agir de qualquer cidadão, mesmo consciente de um agir ético alicerçado nas suas responsabilidades, poderá não ser certa, pois é inquestionável o fato de que erros humanos ocorrem independentemente da vontade da pessoa. Como a responsabilidade, o agir do enfermeiro no processo de administração de medicamentos não é solitário. Faz-se necessário uma integração entre médicos, farmacêuticos, enfermeiros, desenvolvendo um trabalho em equipe e objetivando a potencialização dos benefícios aos clientes. No que tange a enfermagem nesse processo de administração de medicamentos, a compreensão e um viver com responsabilidade traduz uma prática holística, valorizando o indivíduo com valores, cultura e com diminuição de possibilidades de erros e com uma qualidade de assistência que a sociedade é merecedora. A sensação de culpa de ter sido a fonte provocadora de sofrimentos, dores ou levado a morte de um ser humano é uma punidade que não há necessidade de leis para referendá-la. A ética e moral que norteiam a administração de medicamentos são decorrentes dos preceitos legais do código de deontologia de enfermagem determinante para a responsabilidade de postura profissional, porém não satisfaz somente conhecer o código. Agir conforme princípios é imprescindível para o reconhecimento da profissão enfermagem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Souza EF. Novo manual de enfermagem: procedimentos e cuidados básicos. 6ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 1982. 2. Laganá MTC, Araújo TL, Santos LCR, Silva SH. Princípios gerais de administração de medicamentos e ações de enfermagem. Rev Esc Enfermagem USP abr. 1989; 23(1): 3-16. 3. Arcuri EAM. Reflexões sobre a responsabilidade do enfermeiro na administração de medicamentos. Rev Esc Enfermagem USP ago 1991; 25(2): 229-37. 4. United Kingdom Central Council for Nursing (UK). Midwifery and health visiting. Standards for the administration of medicines. London: UKCC; 1992. 5. Oguisso T. A responsabilidade legal do enfermeiro. Rev Bras Enfermagem 1985; 38(2): 185-9. 6. Conselho Regional de Enfermagem-COREN (BR-SP). Principais legislações para o exercício da enfermagem. São Paulo: COREN; 1996. 7. Holanda Ferreira AB. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1986. 8. Noronha EM. Direito penal. 27ª ed. São Paulo: Saraiva; 1990. v. 1. 9. Moraes IN. Erro médico. 2ª ed. São Paulo: Maltese; 1991. 10. França GV. Direito médico. 6ª ed. São Paulo: Fundação BYK; 1994. 11. Lopes A, Nunes L. Acerca da trilogia: competências profissionais – qualidade dos cuidados – ética. Nursing – Rev Tecn Enfermagem jul./ago. 1995; 8(90/91): 10-3. 12. Barton WG, Barton GM. Ethics and law in mental health administration. New York: International Universities; 1984. 13. Segre M, Cohen C, organizadores. Bioética. São Paulo: EDUSP; 1995. Fonte: https://www.revistas.usp.br/rlae/article/viewFile/1552/1597 acesso em 08 de dezembro de 2016 às 10:50h. |
FARMACOLOGIA
Competências: conhecimento em relação às principais formas farmacêuticas e das vias mais adequadas para a aplicação dos diferentes medicamentos. Conhecimento dos processos farmacocinéticos gerais que atuam na relação entre a droga e o organismo. Conhecimento dos processos farmacodinâmicos que atuam no relacionamento entre o organismo e a droga (os tipos de mecanismos de ação). Conhecer os mecanismos de ação das drogas que atuam no sistema nervoso autônomo, sua classificação, efeitos colaterais e usos terapêuticos. Conhecer os principais grupos de drogas que atuam no sistema nervoso central, seus mecanismos e efeitos colaterais.
PLANO DE AULA
Curso: Curso técnico de nível médio em enfermagem
Autor: Francisco Sandro Menezes Rodrigues Unidade: farmacologia aplicada à enfermagem Assunto: Farmacologia Objetivo Compreender os conceitos e estudo dos efeitos dos fármacos (substâncias químicas) sobre os sistemas biológicos e funcionamento de organismos vivos. Aprendizado dos princípios básicos da Farmacologia, dos principais grupos de drogas aplicados à Saúde, para sua formação e interligação com as demais áreas profissionais da Saúde no âmbito da prescrição e uso de drogas. Conteúdo programático
Metodologia Aula expositiva oral do conteúdo programático, livro didático com o auxílio de recursos multimídia e quadro branco. Avaliação Os alunos serão avaliados por meio de técnicas utilizadas pelo educador como pesquisa, seminários, exposições, resolução de exercícios em sala de aula, etc. bem como através de sua participação durante a aula. Bibliografia GOODMAN; GILMAN. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 10ª ed. Editora MCGraw-Hill. RANG, H. P.; DALE, M. M.; RITTER, J. M. Farmacologia. 4 ed. Editora Guanabara Koogan. GOODMAN, L. S. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 10 ed. Rio de Janeiro: Mc Graw Hill, 2002. PORTH, CM. Fisiopatologia. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara-koogan, 2002. RANG, H. P.; DALE, M. M. Farmacologia. 4 ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2001. |
AQUECIMENTO
A farmacologia como ciência, está sujeita a valores próprios do conhecimento científico, assim como aos valores pessoais e sociais dos pesquisadores e do momento histórico. Além de oferecer um produto para o tratamento de problemas de saúde, a indústria farmacêutica visa ao lucro, e esse aspecto não pode ser dissociado do desenvolvimento dos medicamentos. A farmacologia é área do conhecimento que interage com outras, influenciando e recebendo contribuições de diversas ciências básicas e da prática clínica. Por outro lado, como outras ciências naturais, a farmacologia tem uma vertente que busca explicações para os fenômenos da natureza e um âmbito relacionado à manipulação da natureza contribuído mais no aspecto técnico-científico, de fabricar medicamentos úteis, do que trazendo explicações causais sobre a atuação dessas drogas. Além da importância das ações farmacológicas, que produzem alterações na fisiologia das células do nosso organismo animal, o papel simbólico desse recurso terapêutico e a sua importância econômica nas últimas décadas fazem com que os medicamentos modernos ocupem uma posição central na prática biomédica atual. Na área médica, o uso de medicamentos que buscam “normalizar” o funcionamento biológico modificando comportamentos indesejáveis pode ser uma forma de padronizar a forma de vida das pessoas. Hoje a intervenção médica está mais relacionada a questões farmacológicas, com drogas que interferem diretamente no metabolismo, do que à ação sobre os genes, mas com os avanços da farmacogenética, a atuação nessa esfera não está descartada. As pesquisas farmacológicas vêm sendo realizadas para procurar novas drogas com ações específicas e para explicar seu efeito, mas também têm servido para tentar entender como o organismo funciona sob o aspecto biológico e como os distúrbios patológicos estariam ocorrendo nesse âmbito, ou seja, têm sido buscadas explicações farmacológicas para determinadas situações clínicas. O conhecimento técnico sobre os fármacos, sua ação, atuação, reações que podem ocasionar, devem ser do conhecimento de todos os profissionais da saúde. A farmacologia está sujeita a valores próprios do conhecimento científico, assim como aos valores pessoais e sociais dos pesquisadores e do momento histórico. Uma das influências que recebeu, desde os primórdios, foi da indústria farmacêutica, pois parte do desenvolvimento da farmacologia ocorreu dentro da própria indústria. A indústria é um segmento da sociedade que, além de oferecer um produto a ser usado no tratamento de problemas de saúde, visa o lucro, e esse é um aspecto que não pode ser dissociado do desenvolvimento dos medicamentos: além de úteis, eles devem proporcionar ganhos financeiros. Embora a farmacologia possua certa autonomia (tanto em seus métodos quanto nas suas regras de desenvolvimento, por exemplo), está em constante diálogo com a prática clínica. A farmacologia apresenta duas linhas de desenvolvimento: a primeira delas se refere à parte técnico-científica que, estudando o modo de ação das diferentes substâncias, fornece subsídios para o desenvolvimento de fármacos (drogas ou medicamentos) que são úteis na terapêutica. A segunda procura, a partir do conhecimento de como determinadas substâncias ou drogas agem no organismo, buscar relações causais entre essas substâncias e o aparecimento de sintomas. A farmacologia tem contribuído muito mais no aspecto técnico-científico, de manipular as substâncias e transformá-las em medicamentos que podem ser úteis em determinadas situações de vida, do que trazendo explicações para as causas dessas situações. Quanto maior o conhecimento dos enfermeiros sobre os medicamentos que administra, maior será sua capacidade e segurança em desenvolver a atividade de administrar medicamentos, mas, é urgente e necessário que se obtenha conhecimento de farmacologia adequado às exigências do cotidiano do enfermeiro com prescrições de medicamentos feitas de formas completas, com abreviaturas padronizadas que viabilizem a compreensão das mensagens enviadas, com requisições completas em seu preenchimento e que as informações entre a equipe e pacientes, sejam coerentes em sua comunicação para se evitar erros e consequentemente danos ao paciente. Os profissionais de Enfermagem necessitam rever os aspectos éticos que regem sua profissão, visto que eles servem como embasamento para uma prática segura com qualidade na assistência, mostrando a necessidade de responsabilidade e comprometimento do enfermeiro para investir no melhor de si em sua vida profissional. A orientação a buscar, é o preparo desses profissionais para os amplos problemas de saúde da comunidade, focando a saúde como um todo.
DINÂMICAS
O FARMACÊUTICO
Categorias: – Criatividade Experimentar sentimentos, desenvolver a criatividade e a habilidade para negociação. Nº de Participantes: de 3 a 10 participantes Material: papel e lápis ou caneta. Uma cópia dos textos para cada participante. Desenvolvimento O facilitador divide os participantes em grupos, informando que a dinâmica poderá mexer com conceitos individuais. Explica que a Dinâmica será sobre a história de um farmacêutico e dois compradores e que o grupo do Farmacêutico falará como se fosse apenas uma pessoa. Os demais grupos falarão por tantas pessoas quanto as que formarem o grupo. Após a divisão, solicita-se que o grupo do Farmacêutico permaneça na sala, acompanhando os outros dois grupos para outra sala. Cada grupo terá 15 minutos para o planejamento inicial de suas estratégias e mais 15 minutos para negociar com o farmacêutico. Após a 1ª fase os grupos terão mais 15 minutos para reverem suas estratégias. Após a revisão de estratégias, os outros dois grupos retornam para a sala e terão 45 minutos para negociação, na 2ª fase, com o farmacêutico, sendo que os dois grupos deverão agir simultaneamente. Terminada a negociação, encerra-se a atividade. Texto para o Farmacêutico Você é o único farmacêutico e a única pessoa que entende um pouco de medicina natural na ilha. Tem 62 anos de idade e há 22 vive sozinho nessa ilha. Grandes e várias desilusões da vida o fizeram tomar essa atitude, dentre elas o fato de ser viúvo há 24 anos. Seus três filhos – todos médicos – o abandonaram e não se interessaram nem um pouco por você. Durante a sua vida profissional no continente, só colheu grandes prejuízos financeiros devido ao elevado número de desonestos no seu antigo ramo de negócio. Esses e outros fatos de tão grande importância fizeram de você uma pessoa extremamente materialista, ateu, mas amante da natureza, razão pela qual resolveram dedicar seus anos de vida nesta ilha, longe da pretensa civilização e para onde nunca mais quer voltar. Ao longo dessa vivência em contato com a natureza e satisfazendo seu interesse pela medicina, você pesquisou e descobriu vários soros antiofídicos. O mais recente desses foi o da cobra coral malhada de rabo preto, considerada a mais mortal das picadas, pois mata uma pessoa em 3 a 4 horas, caso não seja aplicado o soro antiofídico em até 2 horas. Você conseguiu, na semana passada, sintetizar uma quantidade desse soro, que está num frasco bem fechado e que é suficiente para duas doses. Um detalhe importante da utilização desse soro é que, uma vez aberto o frasco, o seu conteúdo deverá ser imediatamente usado, pois em caso contrário se oxidará e perderá sua eficácia. Você venderá esse frasco e mais duas seringas descartáveis por R$ 15.000,00 que é o preço que acha justo em razão do seu valor para salvar vidas e também para comprar os materiais químicos necessários para a continuidade das pesquisas. Você poderá baixar o preço desse frasco até R$ 10.000,00. Sua única e exclusiva condição é esta: ?só aceita dinheiro em espécie, na mão?, pois você já está muito desiludido com as conversas e argumentos nem sempre consistentes desse pessoal das cidades grandes. No seu estoque de soros você dispõe também de: 2 frascos, com 2 doses cada, de soro contra o veneno de jararaca, por R$ 10.000,00 cada. Uma de suas características pessoais é a de falar bastante sobre a sua vida na ilha e do interesse que demonstra pela pesquisa contínua na busca da cura através da própria flora da ilha. Obs.: Não fale para o outros comprador que há outra pessoa interessada neste mesmo soro. Texto para o Comprador A Você e sua família (esposo(a) e uma filha de 12 anos) estão passando um fim de semana, acampados no lado norte de uma pequena ilha, que possui belíssimas praias e excelente local para pescaria. Hoje, por volta das 14:00 horas, sua filha foi picada por uma cobra coral malhada de rabo preto, cujo veneno mata uma pessoa em 3 a 4 horas, caso não seja aplicado o soro antiofídico específico, até 2 horas após a picada. O barqueiro informou que na ilha existe um único farmacêutico e que esta pessoa entende desse assunto e que à volta para o continente demorará 6 horas em razão da maré. Para comprar esse remédio salvador, você dispõe de:
Seu objetivo imediato é o de comprar, a qualquer preço, esse soro e trazer o quanto antes para o acampamento, pois com apenas uma dose salvará a vida de sua filha única, que já apresenta febre alta e se queixa de fortes dores e dormência na perna em que foi picada. Texto para o Comprador B Você e sua família (esposo(a) e 4 filhos – 3, 5, 8 e 10 anos), estão passando um fim de semana no lado sul de uma pequena ilha, com belas praias e excelente local para pesca. Hoje, por volta das 14:00 horas seu filho caçula foi picado por uma cobra coral malhada de rabo preto, cujo veneno mata uma pessoa em 3 a 4 horas, caso não seja aplicado o soro antiofídico específico até 2 horas após a picada. O barqueiro lhe informou que não adianta voltar para o continente, pois a viagem levará cerca de 6 horas devido à maré. Esse barqueiro lhe informou que existe um único farmacêutico que cuida da saúde dos habitantes dessa ilha e que talvez tenha o remédio. Para comprar esse soro que irá salvar a vida de seu filho, você dispõe:
Seu objetivo é localizar imediatamente esse farmacêutico e comprar esse soro milagroso que com uma única dose salvará a vida de seu filho. Você notou que a criança está com febre alta e se queixa de dormência e dor no peito, no local onde a cobra picou. Fonte: https://www.artolima.com.br/ebooks_pdf/dinamicas_de_negociacao.pdf pag. 5 acesso em 09 de dezembro de 2016 às 13:01h. |
Os Corpos Revelam Uma Posição Social
Categorias: – Comunicação Objetivos: Sentir que atrás de nosso corpo há uma instituição (os organismos, os ritos, os direitos e os temores); sentir que atrás das instituições há pessoas, há decisões tomadas por elas, há relações. etc. Nº de Participantes: de 5 a 15 participantes Material: lápis ou caneta e folhas em branco para os participantes. Desenvolvimento O facilitador inicia propondo ao grupo que cada um se imagine em situações passadas da vida em que não se sentiram à vontade nas comunicações com outras pessoas, ou ainda, situações em que as palavras não saíram facilmente quer seja pelo acanhamento, medo ou outras dificuldades. Imagina-se que quase todas as pessoas passaram por tais situações, na vida. Cada participante irá fazer suas anotações a respeito destas lembranças. Após alguns minutos pede-se que, um a um, os participantes leiam suas anotações. Geralmente se observa que as situações mais constrangedoras e apresentadas pela maioria dos grupos se referem à comunicação com os superiores, e não com iguais. Diante dessa situação, o facilitador escolhe para o exercício uma secretária e dois protagonistas e propõe uma dramatização baseada no seguinte texto: Uma determinada pessoa foi procurar o chefe de pessoal de uma empresa para informar-se acerca de um emprego, antes de candidatar-se ao mesmo. O pretendente bate à porta. A secretária atende e convidando-o a entrar. Ao atender, saúda-o, pedindo que aguarde sentado. Entra na sala do chefe para anunciá-lo. Enquanto espera, apressado e nervoso, procura no bolso um bilhete no qual anotara o seu pedido. Nisso aparece à secretária, o que não permitiu fosse lido o bilhete, antes de ser atendido pelo chefe. Então o facilitador aplica uma técnica usada em psicodramatização, parando a cena e invertendo os papéis. O candidato se torna o chefe do pessoal, sentando-se no escritório, no lugar ocupado pelo chefe, e este ocupa a posição do candidato, fazendo o seu papel. É importante observar como o comportamento das pessoas muda radicalmente. O candidato toma uma posição reta, firme, sentando-se corretamente. Enquanto o chefe deixa seu ar de autoridade, e apresenta-se humilde, acanhado, falando com voz sumida. A dinâmica continua. O facilitador pede aos observadores do grupo que façam uma lista das anotações de tudo o que constataram e a mensagem que os dois protagonistas deixaram na dramatização. A seguir, cada observador lerá suas anotações, dar-se-á uma discussão dirigida a respeito da dinâmica. Fonte: |
TEXTOS PARA REFLEXÃO
A importância da farmacologia para a enfermagem
Maria Lucia Moura, da Faculdade de Enfermagem Luiza de Marillac. Apresentamos uma pequena abordagem sobre o ensino de farmacologia, simplificando a linguagem, de cada aspecto e ações subsequentes da droga no organismo assim como a importância do estudo para o enfermeiro e sua equipe. Assim como todas as disciplinas com suas teorias e técnicas para o exercício da enfermagem, a farmacologia tem um lugar de destaque, já que os resultados da interação das drogas podem advir da relação entre o ensino da terapêutica aliada à profilaxia. Sendo assim, não se pode frequentar uma instituição de saúde com o conhecimento geral das drogas baseado no empirismo. Sabemos que administrar medicamentos consiste nas atribuições desenvolvidas pela equipe de Enfermagem, que por lei assume o dever jurídico de responder pelos procedimentos sempre que estes atos violem os direitos de terceiros, se justificando negligência, por isso exige técnica e cientificidade no fazer. Diante disso em algumas instituições de saúde, a administração dos medicamentos é realizada pela equipe de enfermagem, mas sendo supervisionados pelo enfermeiro. De qualquer maneira, o enfermeiro será responsável, e essa responsabilidade não compreende apenas a deliberação de ministrar a terapia medicamentosa. Nesse contexto administração de medicamentos é visto como um processo que inclui várias etapas inter-relacionadas e abrange a prescrição do profissional, a interpretação dessa prescrição e o entendimento da escrita, pois erros básicos na leitura ou no manuscrito poderá influenciar o preparo da medicação, viabilizando um perigo imediato na sua administração. E não podemos esquecer o cliente e sua resposta a essa medicação. Para continuar o Enfermeiro é responsável pelo conhecimento dos efeitos de uma droga, pela administração correta, pelo controle da resposta do cliente e pelo auxílio ao mesmo na autoadministração. Por isso ressaltamos a ansiedade e apreensão dos acadêmicos de Enfermagem frente aos estágios curriculares em relação à prática de administração de medicações. Ressalta-se que é durante a convivência no ensino clínico que o docente supervisor poderá perceber o conhecimento técnico científico aprendido na faculdade, e se foi realmente apreendido, observando suas habilidades e destrezas e a confiança no seu fazer, já que será no âmbito hospitalar o palco onde serão os atores principais durante um trimestre. No que se refere é imprescindível que o acadêmico possa assimilar os aspectos abrangentes no ensino da farmacologia, e que possa refletir o contexto em que se encontra inserido, e a responsabilidade que lhe é conferida, associando a medicação à patologia, durante o ensino da disciplina, principalmente a atuação de determinadas drogas no organismo seus efeitos colaterais, sua ação adversa, e sua interação com outros medicamentos. Dando continuidade a prática não pode ser dispersa e esporádica, sem rumo, sem método; ela precisa ser reconstruída teoricamente, para ser fonte de conhecimento e não só de aplicação decorrente dele. Torna-se imprescindível a consulta aos livros e apontamentos sempre que houver incertezas a respeito da posologia, a dose a dose mínima e a dose máxima, e o que poderá acarretar. Partindo dessa ideia é necessário entender o mecanismo intrínseco da droga, conhecido como farmacodinâmica, seus efeitos bioquímicos e fisiológicos. Perceber a importância da via de administração, que influencia diretamente a biodisponibilidade, a quantidade de droga aplicada que chega ao seu local de ação e que apresenta uma resposta farmacológica, entendendo também o mecanismo de excreção dessas drogas. Para rever parece complicado de início, mais se torna compreensível à medida que se estuda, e percebe-se a melhora do paciente. Com o advento de novos medicamentos no mercado farmacêutico, cada vez mais potentes em eficácia terapêutica e toxicidade, a administração tornou-se um processo extremamente complexo, em que os conhecimentos de anatomia, fisiologia e farmacologia são fundamentais para a execução do procedimento com eficiência e segurança. Diante dessas considerações para assegurar o sucesso da terapêutica, é preciso conhecer a ação dos medicamentos, monitorizar os efeitos indesejados e evitar as interações medicamentosas, entre outros aspectos. É certo que erros na medicação, e na administração, resultam danos irreparáveis aos pacientes, caracterizando iatrogenias podendo haver uma variação de mal estar à morbimortalidade. Refletindo sobre esse aspecto, sabemos que tais erros podem causar sensação de insegurança além de colocar a instituição na mídia, perpassando pela responsabilidade civil do enfermeiro. É necessário também um investimento maior na formação dos profissionais de enfermagem visto que nas Instituições de saúde na sua maioria são os técnicos e alguns auxiliares membros da equipe de enfermagem que administram as medicações seguindo as prescrições, inclusive dos pacientes críticos. Percebe-se que a dicotomia entre a teoria e prática, torna-se dual, a partir de um ensino de competência e qualidade, acatando os valores éticos, e unindo a técnica e a cientificidade no ensino de enfermagem. Com esse entendimento, sabe-se que o mercado da saúde é competitivo e o conhecimento de farmacologia como um todo, permitirá ao futuro enfermeiro entender com maior clareza, os efeitos indesejáveis e os efeitos terapêuticos das drogas. Dessa maneira com uma compreensão maior a respeito do medicamento alopático, e o papel do placebo voltamos ao passado unindo o antigo e o contemporâneo, já que conhecemos o placebo como uma substancia inativa, mas que lhe são atribuídas propriedades de cura. Diante de tantas possibilidades, é importante que se compreenda a farmacologia, como o princípio da cura, ou seja, a partir do paciente certo, hora certa, medicamento certo, dose certa via certa. Essas certezas são imprescindíveis no exercício de enfermagem, e ao lidar com as medicações. Precisamos formar cada vez mais, profissionais competentes, conscientes, comprometidos com o fazer, para que não se faça atrocidades com os pacientes seja por falta de supervisão, ou conhecimento técnico cientifico. É necessário exigências no decorrer do curso, formando exclusivamente profissionais que demonstraram competências durante a academia. Novos tempos, novas tecnologias, novas problemáticas, novos paradigmas. Uma única certeza nesse percurso é a competência, dos docentes, o comprometimento do aluno, e a criação de estratégias educacionais, para que se tenha a sensação do dever cumprido. REFERÊNCIAS 1. DEMO, P. Educação e qualidade. Campinas: Papirus, 1996. 2. POTTER, PA.; PERRY A. G. Grande Tratado de Enfermagem: clínica e prática hospitalar. São Paulo: Santos, 2001. 3. SILVA, MT; SILVA, SRLPT. Cálculo e administração de medicamentos na enfermagem. São Paulo: Editora Martinari; 2008. 4. SECOLI SR. Terapia farmacológica e enfermagem: enfoque no paciente em estado crítico. Prática Hospitalar. 2001;3(17):20-6 5. SHAPIRO AK… The Placebo Effect in the History of Medical Treatment: Implications for Psychiatry. Am. J. Psychiat. 1959; 116:298-304. 6. KATZUNG BG. Farmacologia Básica & Clinica. Editora: McGraw-hill Interamericana, 10ª Ed. Rio de Janeiro, 2010. Fonte: Blog Saúde Brasil Escrito por *Enfª. Profª. MS. Maria Lucia Moura – Faculdade de Enfermagem Luiza de Marillac/São Camilo. Rio de Janeiro Fonte: https://www.cntu.org.br/new/noticias-lista/1682-artigo-a-importancia-da-farmacologia-para-a-enfermagem acesso em 09 der dezembro de 2016 às 12:58h. |
ATENÇÃO FARMACÊUTICA NA SAÚDE DO IDOSO
A qualidade de vida do idoso é bastante influenciada por sua capacidade de manter a saúde emocional e física. Velhice não significa estar doente, mas, com o avanço da idade, a capacidade funcional diminui e, com isso, o paciente perde sua independência e autonomia, tendo sua qualidade de vida comprometida. Devido às alterações ocasionadas pelo envelhecimento, o paciente tem mais tendência a apresentar uma evolução nas patologias e, como consequência, aumentar o consumo de medicamentos e as chances de erros de administração ou interações medicamentosas (Fidêncio, 2011). Segundo a Organização Mundial de Saúde, espera-se que 6,4% da população mundial seja composta por idosos e estima-se que haja um crescimento para 800.000/mês, representando a população mais crescente em países desenvolvidos. Essa trajetória demográfica tem provocado um aumento na prevalência de doenças crônicas comuns na velhice (Filho, 2012). A partir da década de 70, verifica-se um crescimento considerável da população brasileira acima de 60 anos. Segundo dados do Conselho Estadual do Idoso (2012), hoje em dia existem aproximadamente 17 milhões de idosos no Brasil e estima-se que em 2030 esse número aumentará para 35 milhões, sendo esse o segmento de maior crescimento populacional (Lebrão et. al, 2011; Vera, 2011; Coelho Filho et. al, 2012; Flores, 2012 ; Ribeiro, 2011). As causas de adoecimento e morte de idosos são provindas de vários fatores, sendo um desafio para as políticas públicas e de saúde. As políticas de saúde são caracterizadas pela garantia e disponibilidade de acesso ao serviço de saúde, e qualidade dos medicamentos essenciais (Cintra et. al 2011). A maior disposição a ocorrer doenças crônicas com o envelhecimento requer em seu tratamento modificações no estilo de vida e acompanhamento do progresso do quadro clínico que, se não for controlado corretamente, tende a agravar o prognóstico. O crescimento da prevalência destas doenças na idade avançada posiciona os idosos como o grupo etário que mais utiliza medicamentos na sociedade, chegando a representar mais de 50% dos usuários de diversos fármacos (Almeida et. al, 2013). Avaliando o contexto nacional, é possível constatar que, teoricamente, o SUS acata as recomendações da OMS, agindo nas ações de prevenção, promoção e assistência à saúde dos brasileiros. Mas, na realidade, essas ações precisam ser efetivamente implementadas em diversas partes do país, especialmente com relação ao modelo preventivo preconizado (Baldoni et. al, 2011). A alteração drástica na estrutura etária brasileira, advinda em um tempo relativamente curto, origina grandes dificuldades ao Estado para lidar com o novo perfil epidemiológico que, aos poucos, se sobrepõe, sem ter substituído totalmente o perfil anterior predominante, uma vez que a velocidade dessas modificações não está sendo acompanhada pela saúde de qualidade e distribuição de renda para o paciente idoso (Baldoni et. al, 2011). De acordo com Baldoni et al (2011), com o altíssimo número de idosos que estão sendo incluídos anualmente à população brasileira, não podemos deixar de avaliar suas consequências para o sistema de saúde, como o aumento de atendimentos aos portadores de doenças crônicas complexas, não transmissíveis e onerosas, peculiares da população idosa que persistem por anos e exigem cuidados constantes, exames periódicos e medicação contínua. Essa constatação induz à preocupação imediata com a elevada demanda por serviços de saúde, além do aumento de seus custos. OBJETIVO O presente trabalho tem como objetivo, demonstrar a importância da atenção farmacêutica em pacientes idosos. MATERIAIS E MÉTODOS No exercício da atenção farmacêutica, o profissional tem a responsabilidade especifica de prevenir, identificar e resolver problemas relacionados aos medicamentos (PRM). Foi realizada uma revisão bibliográfica de artigos científicos retirados das bases de dados MEDLINE e SCIELO com o objetivo de analisar a importância da contribuição do farmacêutico na atenção à saúde e uso do medicamentos na população idosa. DESENVOLVIMENTO Estudos envolvendo a população idosa tem tido grande relevância devido ao envelhecimento populacional gerar novas questões sociais, sanitárias e econômicas (Conselho Estadual do Idoso, 2011; Filho 2011; Pascoal, 2011). Segundo Paschoal (2011) e Diaz (2012) os serviços de saúde e internações hospitalares são utilizados por mais tempo e com maior frequência pelos idosos, quando comprados a outras faixas etárias. Indivíduos acima de 40 anos estão mais acometidos à utilização de fármacos, devido à grande incidência de patologias nessa faixa etária. Dessa forma, há um aumento do consumo de medicamentos, necessitando de uma maior atenção à saúde do idoso (Diaz, 2012; Galo et. al 2011; Flores, 2011; Teixeira 2013), e do uso racional de medicamentos. A automedicação é uma forma de auto-cuidado à saúde, que consiste em uma seleção e uso de medicamentos sem a prescrição, orientação ou o acompanhamento do médico, sendo prática comum na população idosa (Costa et al, 2011).Estudos apontam o predomínio do uso de medicamentos com prescrição médica, pelos idosos. No entanto, é comum encontrar prescrições de doses e indicações impróprias e o uso de medicamentos sem valor terapêutico (Barros, 2011; Oliveira et all, 2012). O uso correto de medicamentos acarreta em benefícios terapêuticos mas, o consumo exacerbado pode causar riscos à saúde. Isso ocorre devido ao uso, em média, de dois a cinco medicamentos por isso, tornando o indivíduo mais susceptível aos efeitos adversos, interação medicamentosas e toxicidade (Araújo, 2012). A farmacologia para os idosos necessita de muito cuidado. Com a idade, a massa muscular e a água corporal diminuem, podendo comprometer o metabolismo hepático, os mecanismos homeostáticos, a filtração e excreção renal, assim dificultando a eliminação de metabólitos, acúmulo de substâncias tóxicas, aumentando as reações adversas (Carvalho et. al, 2012) .De acordo com Menezes (2010), A Atenção Farmacêutica foi reconhecida no Brasil como uma tática de desempenho social e multidisciplinar do farmacêutico unido à sociedade e ao paciente. Sua prática deve estar norteada para educação em saúde, orientação farmacêutica, dispensação de medicamentos, acompanhamento farmacêutico, atendimento, registro sistemático de atividades e avaliação dos resultados, tendendo às terapias seguras e eficientes. Ela vem crescendo continuamente na população idosa, sendo um dos elementos das estratégias de atenção à saúde, onde promove, restaura e mantêm o bem estar dos indivíduos e do paciente que o compõem, podendo prevenir a repetição das enfermidades, em especial ao uso correto de medicamentos. Sua ação consiste na responsabilidade com o paciente, primeiramente para que o medicamento prescrito tenha o efeito esperado, alertando sobre prováveis interações, reações adversas e intoxicações (Fidêncio, 2011). Segundo Fidêncio (2011), a hipertensão e o diabetes são as doenças crônicas muito comuns nos idosos, assim sendo, os fármacos hipoglicemiantes e anti-hipertensivos são os que necessitam de maior atenção e cuidados na dispensação e administração. As interações dos medicamentos podem ocorrer por vários fatores, não só relacionados ao uso de vários medicamentos (polifarmácia), mas também fatores externos, como tabaco, alimentação e as próprias comorbidades já existentes. Quando se trata de atenção farmacêutica ao idoso, é necessário mais comprometimento, pois eles precisam de orientação especial, escrita e/ou verbal, a fim de melhorar o tratamento e reduzir riscos à saúde. – Paciente idoso hipertenso: preparar fichas de controle para acompanhamento de aferição da pressão arterial; – Paciente idoso diabético: orientar o paciente quanto à administração correta dos fármacos, em relação ao melhor horário a ser tomado e realizar a verificação da concentração de glicemia através de teste de sangue capilar; – Ao paciente idoso que não sabe ler, fazer desenhos, como sol e lua, indicando o dia e a noite no esquema posológico de medicamentos; – Ao paciente idoso que faz uso de mais de um medicamento e que os comprimidos possam ser confundidos por ter a mesma cor, por exemplo, pode-se optar por alguns símbolos que possa ajudá-lo a diferenciar esses medicamentos; – Orientar quanto à importância de uma boa alimentação e realização de atividades físicas, a fim de auxiliar nos bons resultados do tratamento; – Não fazer uso de medicamentos sem acompanhamento do médico ou farmacêutico responsável. Segundo D’Andréa et. al (2012), o conhecimento científico do farmacêutico não possui mais importância que o empírico obtido pela vivência do paciente. Esses são complementares. O paciente começa a se cuidar melhor quando se sente respeitado e toma consciência de sua importância como agente da própria saúde, apresentando uma consequência positiva diretamente sobre a sua saúde. Fatores que acompanham o envelhecimento, como o consumo de fármacos e a maior prevalência de enfermidades crônico-degenerativas, aumentam a incidência dos problemas associados aos medicamentos (PRM), e pode, também, ser potencializada pela redução do funcionamento de diversos mecanismos fisiológicos, incluindo os relacionados à dinâmica e à cinética dos fármacos, levando a uma população vulnerável aos diferentes problemas de saúde e elevando os custos dos sistemas de atenção sanitária (Carvalho et. al, 2013). É de suma importância o conhecimento em relação à terapia medicamentosa. Antes de serem lançados no mercado, os medicamentos devem apresentar segurança e eficácia, sendo indispensável, para isso, a existência de uma regulamentação sanitária rígida. Sobretudo, toda esta produção de medicamentos “teoricamente” seguros e efetivos, nem sempre acarreta em resultados positivos. Muitas vezes, a farmacoterapia falha, ou seja, não alcança seus objetivos de suavizar um sintoma ou curar/controlar uma doença, podendo levar, a efeitos indesejáveis. Nestes casos, é importante que o farmacêutico exerça serviços como a Atenção Farmacêutica, sendo o seguimento farmacoterapêutico ideal para estes pacientes (Carvalho et. al, 2013). De acordo com Carvalho et. al (2013), por meio do acompanhamento farmacoterapêutico, o farmacêutico procura garantir o tratamento mais aconselhado, seguro, efetivo e conveniente a esses pacientes. Desta forma, a orientação do seu trabalho é movida do produto para o serviço e do medicamento para o paciente, analisando-o em sua totalidade, apreciando a ocorrência de problemas de saúde associados a medicamentos e procurando resolvê-los por meio da intervenção farmacêutica no contexto da equipe interdisciplinar, com a aplicação de medidas preventivas ou corretivas. Segundo Baldoni et. al (2011), presume-se que, se não existir um planejamento apropriado da gestão da Assistência Farmacêutica, com conhecimento sobre o perfil farmacoepidemiológico dessa faixa etária, os problemas tendem a aumentar e o uso racional e o acesso aos medicamentos que são objetivos primordiais da Política Nacional de Medicamentos (PNM) podem ficar comprometidos. Fundamentando-se nesses conhecimentos, pode-se considerar que, para a seleção dos medicamentos que compõem a RENAME (Relação Nacional de Medicamentos Essenciais), aconselha-se observar os diferentes critérios associados aos medicamentos e à população que irá utilizá-los. Dentre eles, incluir-se a necessidade de eleger medicamentos que supram as necessidades da maioria da população coligados à faixa etária dos indivíduos. Perante esses critérios e, levando em conta que a população que mais consome medicamentos é a dos idosos e que o envelhecimento populacional brasileiro está aumentando significativamente, é de extrema urgência a necessidade de avaliar a seleção de fármacos seguros, eficazes e que possam atender as necessidades da população idosa (Baldoni et. al, 2011). A detecção desses problemas através de estudos farmacoepidemiológicos, além de auxiliar na melhoria dos serviços de saúde prestados aos idosos, pode ser um instrumento essencial para a racionalização dos recursos financeiros disponíveis à saúde (Baldoni et. al, 2011). Diante desta constatação, averigua-se que uma das opções para diminuir essa elevada prevalência de uso desses medicamentos é o uso da prescrição eletrônica com alerta para medicamentos inapropriados para idosos, uma vez que esse método de prescrição alcançou êxito em outros países (Baldoni et. al, 2011). De acordo com Baldoni et. al (2011), é necessário levar em conta que, para classificar um medicamento como inapropriado para certo paciente, não se deve usar somente critérios explícitos ou resultados de grandes estudos baseados em evidências, tornando-se necessário avaliar a peculiaridade e a necessidade de cada paciente. Os critérios explícitos para a escolha dos fármacos considerados inapropriados aos idosos são ferramentas de fácil utilização e muito úteis na prática clínica. No entanto, sob nosso ponto de vista, consideramos ideal que cada país estabeleça sua lista de medicamentos que devem ser evitados, de acordo com o perfil farmacoepidemiológico da população idosa, e, para que isso ocorra, é de fundamental importância à realização desses estudos em diversas regiões do país, com o objetivo de identificar os fármacos que afetam a qualidade de vida, a segurança e o tratamento das morbidades desses pacientes (Baldoni et. al, 2011). CONSIDERAÇÕES FINAIS Os idosos representam a faixa etária mais crescente em relação ao consumo de medicamentos; devido a isso, é possível que traga algumas preocupações quanto à qualidade do sistema de saúde e à importância da assistência farmacêutica, com o objetivo de conscientizar os usuários em relação ao uso correto de medicamentos e aos problemas relacionados ao mau uso. Para que esse objetivo seja alcançado de forma positiva, é imprescindível a atuação da sociedade dos profissionais de diferentes áreas da saúde, bem como dos governantes, trabalhando na formulação, implantação e, na implementação de políticas públicas direcionadas para o atendimento ao idoso. REFERÊNCIAS 1.Almeida HO,Versiani ER, Dias AR, Novaes MRCG, Trindade EMV. Adesão a tratamentos entre idosos. Com. Ciências Saúde. 2013;18(3):57-67. Fonte: https://www.portaleducacao.com.br/farmacia/artigos/57763/atencao-farmaceutica-na-saude-do-idoso acesso em 09 de dezembro de 2016 ás 13:15h. Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação. |
BIBLIOGRAFIA E SITES CONSULTADOS
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BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Gerência de Monitoramento e Fiscalização de Propaganda, de Publicidade, de Promoção e de Informação de Produtos Sujeitos a Vigilância Sanitária – GPROP Projeto educação e promoção da saúde no contexto escolar: o contributo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para o uso racional de medicamentos. Caderno de atividades/ Agência Nacional de Vigilância Sanitária. – Brasília: Anvisa, 2007.
CASTRO, CGSO., coord. Estudos de utilização de medicamentos: noções básicas [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2000. 92 p. ISBN 85-85676-89-2. Available from SciELO Books
Curso de especialização profissional de nível técnico em enfermagem – livro do aluno: urgência e emergência / coordenação técnica pedagógica Julia Ikeda Fortes … [et al.]. São Paulo: FUNDAP, 2010.
Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN nº 311/ 2007. Aprova a Reformulação do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. [citado em: 01 abr 2008]. Disponível em: URL: https://corensp.org.br/072005/.
FARMACOLOGIA CLÍNICA: textos informativos / organizadores Patrícia Medeiros de Souza, Bruno Gedeon de Araujo, Laura Patrícia da Silva. – Brasília, 2012. Manual de atenção à saúde do adolescente./ Secretaria da Saúde. Coordenação de Desenvolvimento de Programas e Políticas de Saúde- CODEPPS. São Paulo: SMS, 2006.
MELO, Anna Bianca Ribeiro. Enfermagem e Segurança na Terapia Medicamentosa em Unidades Intensivas. 2007. 111 p. Dissertação (Mestrado Em Enfermagem). Escola de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 2007.
MORAGAS, Carla Junqueira Estudo do gênero Himatanthus: anatomia vegetal, fitoquímica, farmacologia e biotransformação./ Carla Junqueira Moragas.- Rio de Janeiro: UFRJ/NPPN, 2006.
PINHEIRO, Helena Carmen Guerra Reações adversas a medicamentos: conhecimento e atitudes dos profissionais de saúde em um hospital-sentinela de ensino. / Helena Carmen Guerra Pinheiro. Rio de Janeiro: s.n., 2008.
PINTO, Rosa Alcione da Silva; Chauvel, Marie Agnes (Advisor). O Comportamento do Consumidor das Classes C na sua relação com Medicamentos de Uso Contínuo. Rio de Janeiro, 2008. 101p. MSc. Dissertation – Departamento de Administração, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
SANTOS, Dirce Sofia Fabbri de Almeida Verde dos S59u Uso racional de medicamentos e formação de professores / Dirce Sofia Fabbri de Almeida Verde dos Santos. – 2008
SECOLI, SR. Interações medicamentosas: fundamentos para a prática clínica da enfermagem. Rev Esc Enf USP, v.35, n. 1, p. 28-34, mar. 2001.
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